Terça-feira, 19 de Março de 2024
Megacrises econômicas exigem soluções de igual magnitude, tomadas com presteza e rigor na sua definição. Hoje sabemos que a política equivocada do Fed (o banco central dos EUA) e do governo americano ao deixar o banco de investimentos Lehman Brothers quebrar, em 15 de setembro, inseriu a economia global em sua mais grave crise desde 1929.
Pouco depois, porém, a dimensão da crise financeira internacional exigiu intervenções em grande escala do governo americano, seguido pelo governo britânico - que deu o tom para os demais - e, na seqüência, repique dos EUA e ações da França, Alemanha e dos países europeus, da Ásia e de outros continentes.
No Brasil, como aconteceu nos demais países e de forma acertada, a área econômica do governo liberou cerca de R$ 100 bilhões para o setor bancário, para destravar o financiamento e o crédito às empresas, com a diminuição do empréstimo compulsório que bancos e instituições setoriais são obrigados a realizar. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também anunciaram, em 20 de outubro, entre outras medidas, a liberação de recursos ao setor imobiliário para garantir capital de giro às empresas que estão com dificuldades cada vez maiores para cobrir suas necessidades financeiras de curto prazo e, assim, dar continuidade a suas operações, que movimentam importante setor da economia.
Mas essas medidas, essenciais para irrigar a economia real, são insuficientes. Os grandes bancos usaram os recursos adicionais para equilibrar o próprio caixa, comprar instituições menores em dificuldades e/ou aplicar em títulos do governo brasileiro. Os bilhões de reais liberados ainda não chegaram à economia real. Há setores da cadeia produtiva da construção, tão importantes para a economia quanto o imobiliário, que também estão sufocados pela falta de crédito, especialmente para financiar o capital de giro. São os ligados à infra-estrutura e que desenvolvem projetos e obras essenciais ao desenvolvimento do País - rodovias, portos, aeroportos, hidrelétricas, sistemas de transportes urbanos, edificações e saneamento básico, por exemplo -, eliminando gargalos que travam o crescimento da economia do País.
É importante lembrar que o PAC prevê investimentos de R$ 504 bilhões em quatro anos, dos quais apenas R$ 67 bilhões são inversões diretas do governo, média de investimento de R$ 17 bilhões/ano, e que não estão sendo liberados na íntegra por falta de projetos de engenharia e ineficiência na gestão do programa.
Esses segmentos envolvem desde empresas de projeto e gerenciamento de obras a construtoras, que recebem pelos serviços executados após a respectiva medição ser aprovada e depois de cumpridos os trâmites burocráticos necessários. Quando os procedimentos são rápidos, o pagamento é feito entre 40 e 60 dias após a medição. As empresas, por isso, precisam recorrer ao sistema bancário/financeiro para obter capital de giro por meio de desconto de duplicatas ou empréstimos de curto prazo. Mas, após 15 de setembro, os recursos para financiar capital de giro a essas empresas estão muito mais caros e disponíveis em menor volume do que o necessário.
Assim, uma empresa da construção que fazia empréstimo de curto prazo em valores médios de R$ 1 milhão, e pagava juros entre 1,5% a 2% ao mês, agora só obtém (quando consegue) R$ 500 mil ou menos, a juros entre 2,5% a 3% ao mês, dependendo do porte da firma e da boa vontade do banco. A alternativa a essa escassez, que ameaça paralisar segmentos importantes da economia do País, seria os governos, nos seus três níveis, agilizarem o prazo de pagamento, criando comitês de análise mais expeditos e que, mantendo o rigor e as exigências necessárias, liberassem os pagamentos em 15 dias, sem causar problemas nas contas públicas.
A União, o governo paulista e a Prefeitura de São Paulo vêm obtendo sucessivos recordes de arrecadação - vide os R$ 508,813 bilhões arrecadados pelo governo federal nos primeiros nove meses do ano, mais 10,08% reais ante igual período de 2007. A dimensão da atual crise exige medidas emergenciais para solucioná-la sem onerar os contribuintes e reduzindo os problemas para os agentes econômicos e a sociedade, com a manutenção dos empregos e da renda e a continuidade da atividade econômica. É o que resultaria dessa decisão basicamente administrativa e gerencial dos governos.
*José Roberto Bernasconi é presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco)
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